Cientistas brasileiros estimaram, em um estudo ainda não publicado em revista científica, que Manaus pode ter alcançado a imunidade de rebanho contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2), com até 66% da população manauara tendo desenvolvido anticorpos para o vírus. Os cientistas alertam, entretanto, que chegaram à conclusão depois de analisar amostras de um banco de doadores de sangue, que não necessariamente representa toda a população da cidade.
A pesquisa, que ainda precisa passar por revisão de outros cientistas, é de autores de várias faculdades da USP, incluindo a Faculdade de Medicina, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, além de outras fundações no Amazonas, em São Paulo e nos EUA.
Segundo os pesquisadores, a elevada taxa de mortalidade na região e a rápida queda no número de novos casos sugere que a população da capital do Amazonas pode sim ter alcançado a chamada imunidade coletiva – também conhecida como “de rebanho”.
A imunidade de rebanho é um termo utilizado para descrever a situação na qual uma população atinge um número alto de pessoas resistentes a um vírus (por já terem sido infectadas ou vacinadas), e cria um ambiente onde o vírus não consegue encontrar pessoas suscetíveis a serem infectadas.
Teste sorológico
A pesquisa avaliou um total de 6.316 amostras de sangue colhidas pela Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas, em Manaus, entre os dias 7 de fevereiro e 19 de agosto. O diagnóstico da infecção buscou a presença de anticorpos do tipo IgG para o coronavírus.
Ig é a sigla para imunoglobulina. A imunoglobulina é um tipo de anticorpo produzido pelo sistema imunológico contra um agente invasor. Nesse caso, de classe G – que identifica se um paciente teve infecção anterior, com pelo menos 3 semanas, e está possivelmente imunizado.
A prevalência de anticorpos para o Sars-Cov-2 nas amostras dos doadores de Manaus esteve abaixo de 1% entre os meses de fevereiro e março. A primeira infecção na capital do Amazonas foi registrada apenas no dia 13 de março.
Já em agosto, último mês avaliado pelo estudo, a estimativa da população que produziu anticorpos para o coronavírus está entre 44% e 66%, este último número sugerindo a imunidade coletiva.
Limitações do estudo
Os pesquisadores reconhecem uma limitação no perfil da amostra, afinal, doadores de sangue não conseguem representar toda a população. O estudo explica que há restrições de idade entre os pesquisados e que pessoas infectadas recentemente com a Covid-19 não puderam doar.
Para corrigir quaisquer diferenças, o artigo cita a comparação da incidência do vírus nas doações de sangue em São Paulo. Com isso, os pesquisadores puderam afinar as estimativas de seu modelo epidemiológico e sugerir que dois terços da população manauara já entrou em contato com o vírus.
A queda dos novos casos, no entanto, não está relacionada apenas a esta possível imunidade coletiva. Os pesquisadores reforçam que “medidas não farmacológicas”, como o distanciamento social e o uso de máscaras, podem também ter contribuído com o controle da epidemia no Amazonas.