O Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas começou nesta segunda-feira (26) em São Paulo, organizado por entidades como os institutos Arapyaú, AYA e Clima e Sociedade. O evento termina nesta terça-feira (27) e contará com a presença de especialistas da área.

A fala inicial do primeiro painel deu o tom do fórum e resumiu uma das mensagens repetidas por vários participantes ao longo do dia.

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“Quando falamos de finanças climáticas, precisamos entender que essa agenda requer uma visão integrada. É preciso considerar as intersecções entre finanças, clima, natureza, bioeconomia, saúde, educação, ciência, tecnologia e inovação, infraestrutura, sempre colocando as pessoas no centro das decisões. E, para avançar nessa agenda, é necessário criar condições para que os investimentos na economia de baixo carbono gerem retorno financeiro e os negócios prosperem, ao mesmo tempo que preservem a floresta e gerem renda para seus habitantes”, afirmou a diretora-geral do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon.

“Ninguém pode se beneficiar mais do que o Brasil nessa agenda”, avaliou Renata.

A predominância de combustíveis fósseis tradicionais sobre os combustíveis de baixo carbono foi um dos aspectos mencionados pelos participantes dos painéis.

No período de 2018 a 2022, a cada R$ 1 investido em fontes de energia renováveis, foram gastos R$ 5,60 em combustíveis fósseis, de acordo com um estudo divulgado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em dezembro de 2023.

No mesmo período, o montante aplicado em combustíveis fósseis foi de R$ 334,6 bilhões, contra R$ 60,1 bilhões destinados aos combustíveis renováveis. No caso dos fósseis, o aumento no período analisado foi de 123,9%, contra 51,7% de aumento nos renováveis.

Outro ponto discutido no evento foi a responsabilidade do Estado em relação ao financiamento de energia suja (carvão, gás e petróleo, por exemplo), o que pode resultar tanto em não alcançar as metas estabelecidas em acordos internacionais quanto em um alto custo social.

A discussão retoma algo já criticado em outro relatório, o Fanning the Flames, de agosto de 2023, que fazia recomendações ao G20. Segundo os pesquisadores, se os países do grupo aplicassem o valor de US$ 1,4 trilhão que foi usado para subsidiar combustíveis fósseis, poderiam recuperar esse valor e ainda ter US$ 1 trilhão adicional, impondo taxas ao setor e cobrando entre US$ 25 e US$ 50 para cada tonelada de CO2 emitida na atmosfera.

São Paulo (SP) 26/02/2024 - 1º Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas., evento antecede o encontro do G20 , no hotel Rosewood.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

1º Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas antecede encontro de ministros da Economia do G20 – Paulo Pinto/Agência Brasil

O representante da Open Society Foudations Iago Hairon destacou a necessidade de ampliar o debate sobre o papel do Estado e a tributação verde, que impulsionaria o setor privado a se comprometer mais com as questões de transição energética e meio ambiente.

“Falar sobre financiamento e transição justa é compreender que nossos países vivem realidades completamente distintas, mas qualquer visão de desenvolvimento e transição precisa necessariamente gerar empregos para nossas populações e reduzir as desigualdades abissais que nos separam. Desigualdades essas que foram criadas com uma visão arcaica, que prioriza combustíveis fósseis, um agronegócio expansivo, que não respeita a legislação ambiental, que prioriza o desmatamento e a mineração ilegal”, afirmou Hairon, gerente Programático Global de Finanças, Clima e Equidade.

Hairon acrescentou que é preciso reconhecer que o neoliberalismo é um modelo que falhou inclusive no norte global e que o momento requer uma repactuação internacional. “Digo isso porquê? Porque o neoliberalismo nunca funcionou no sul global”, afirmou.

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