Se não houver alterações nos padrões de produção, consumo e descarte de materiais, a geração de resíduos sólidos domiciliares no mundo deve aumentar em 80% entre 2020 e 2050, passando de 2,1 bilhões de toneladas por ano para 3,8 bilhões.
Um cenário considerado promissor é manter a produção de resíduos em 2 toneladas por ano, no mesmo período, apesar do aumento populacional e melhoria do poder aquisitivo mundial.
Os dados são do relatório Global Waste Management Outlook 2024 (GWMO 2024), lançado hoje (28) durante a Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente, em Nairóbi, capital do Quênia. O documento foi desenvolvido pela International Solid Waste Association (ISWA) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Relatório
O presidente da ISWA, Carlos Silva Filho, um dos autores do relatório, ressaltou que o mundo continua em uma tendência de aumento da produção de resíduos sólidos. “Ainda temos cerca de 40% desses resíduos que acabam em locais inadequados, como lixões e queimadas a céu aberto. Isso é uma tendência muito preocupante”, avaliou.
Se essa situação não for revertida, ele explica que pode haver impactos negativos no clima, com mais emissões de gases de efeito estufa, principalmente metano; na biodiversidade, com maior exploração de recursos naturais e prejuízos para flora e fauna; e na saúde humana, com maior poluição e impactos diretos na qualidade do ar, água e solo.
De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos 2022, foram geradas no Brasil cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos domiciliares, das quais 76 milhões de toneladas foram coletadas, totalizando uma cobertura de coleta de 93%, mesma média apontada para a América do Sul no relatório. No entanto, 40% dos resíduos coletados no país, cerca de 29,7 milhões de toneladas, ainda são enviados para destinos inadequados – lixões e aterros controlados.
Segundo o Atlas Global, no mundo, 38% dos resíduos acabam em destinos inadequados. Na América do Sul, esse percentual é de 34%, o que, segundo o ISWA, mostra que o Brasil está em situação deficitária em relação à média global e à média do continente.
Silva Filho apontou também que os índices de aproveitamento dos resíduos são bastante limitados no país e no mundo. Segundo o relatório, enquanto a média global é de 19% e a do continente sul-americano é de 6%, o índice de reciclagem de resíduos sólidos urbanos no Brasil varia entre 3 e 4% e está estagnado há mais de uma década.
Brasil
No Brasil, o levantamento revelou que, até 2050, a produção de resíduos deve crescer mais de 50% e poderá alcançar 120 milhões de toneladas por ano. Segundo o instituto, esses números demonstram que o país necessita de ações urgentes.
“O relatório mostra que o país ainda está consideravelmente deficiente na gestão de resíduos. Em termos de aumento e crescimento da geração, o Brasil segue a mesma tendência do mundo, com esse crescimento acelerado. No entanto, em termos de aproveitamento do resíduo, estamos muito atrasados”, avaliou Silva Filho.
A publicação indicou também que cerca de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso aos serviços básicos de limpeza urbana, como coleta de lixo. No Brasil, uma em cada 11 pessoas não dispõe desse serviço. Como resultado, mais de 5 milhões de toneladas de resíduos sólidos deixam de ser coletadas anualmente e acabam descartadas no meio ambiente, com impactos negativos no solo, rios e na saúde da população.
Recomendações
Análises das entidades mostraram que o maior impacto no aumento da geração de resíduos sólidos é decorrente do crescimento econômico, sendo 75% devido ao aumento do poder aquisitivo e 25% devido ao crescimento populacional.
“O relatório traz a recomendação de que é necessário dissociar o crescimento econômico da maior geração de resíduos sólidos. Precisamos de um novo modelo de design, produção, venda, distribuição de materiais e de uma nova consciência no descarte e geração de resíduos”, destacou.
Segundo o presidente do instituto, até 2050, a perspectiva é de desenvolvimento econômico mundial, revertendo a rota de recessão e entrando em um cenário de crescimento.
Um exemplo prático para minimizar impactos é o sistema de responsabilidade estendida dos produtores, no qual quem fabrica um produto e o coloca no mercado passa a ser responsável por seu retorno.
“Com isso, é estabelecido um compromisso para que essa indústria produza de forma mais sustentável e facilite o retorno dos produtos”, explicou Silva Filho. Ele também falou sobre a importância de combater o desperdício de alimentos e expandir o mercado de reciclagem, transformando o resíduo em matéria-prima.
O cenário considerado possível de ser implementado seria atingir 60% de reciclagem no mundo, que atualmente está em 19%, e reduzir a geração per capita de resíduos sólidos para uma média de 600 gramas – atualmente a quantidade é de 800 gramas por pessoa. Isso resultaria em um total de resíduos sólidos domiciliares de cerca de 2 bilhões de toneladas em 2050, em um cenário considerado promissor e factível. Além disso, esse cenário prevê que não haja mais destinos inadequados no planeta a partir de 2030.
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