As Forças Armadas dos Estados Unidos ancoraram um pier temporário na costa de Gaza na quinta-feira, criando um ponto de entrada para ajuda humanitária para o enclave, onde o fluxo de suprimentos através das fronteiras terrestres praticamente parou desde que Israel iniciou sua incursão em Rafah na semana passada.
A ajuda será carregada em caminhões que começarão a desembarcar “nos próximos dias”, informou o Comando Central dos EUA em um comunicado nesta quinta-feira de manhã. Autoridades americanas haviam dito na semana passada que o pier flutuante e a construção da passagem já haviam sido concluídos, mas as condições climáticas atrasaram sua instalação.
Israel sempre se opôs a um porto marítimo para Gaza, alegando que representaria uma ameaça à segurança. Diante da crise humanitária no território que se agravou nos últimos meses, com graves escassez de alimentos, medicamentos e outras necessidades básicas, os militares dos EUA em março anunciaram um plano para construir um pier temporário para possibilitar o envio de ajuda via Mar Mediterrâneo.
Um navio americano carregado de ajuda humanitária, o Sagamore, partiu de Chipre para Gaza na semana passada, e a ajuda foi transferida para uma embarcação menor que aguardava a instalação do pier. As Nações Unidas receberão a ajuda e supervisionarão sua distribuição em Gaza, de acordo com o Comando Central, que informou que nenhum militar dos EUA pisará no território.
Nos próximos dois dias, os militares dos EUA e grupos humanitários pretendem carregar de três a cinco caminhões a partir do pier e enviá-los para Gaza como teste do processo estabelecido pelo Pentágono, disse o General Charles Q. Brown, presidente do Estado-Maior Conjunto.
A Operação do pier, espera-se que traga suprimentos suficientes para cerca de 90 caminhões por dia, número que aumentará para 150 caminhões quando o sistema atingir sua capacidade total de operação, de acordo com autoridades.
Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, um porta-voz militar israelense, Tenente-Coronel Nadav Shoshani, disse que apoiar o projeto do pier temporário era uma “prioridade máxima”. Ele afirmou que a Marinha e a 99ª Divisão israelense estavam apoiando o esforço por mar e por terra, respectivamente.
Grupos de ajuda afirmam que a devastação em Gaza após sete meses de bombardeios israelenses, rigorosas inspeções de Israel e restrições nos pontos de passagem estão limitando a quantidade de ajuda que pode entrar em Gaza. Israel argumenta que as restrições são necessárias para garantir que nem armas nem suprimentos caiam nas mãos do Hamas.
O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas disse na quarta-feira que não havia recebido nenhuma ajuda através da passagem de fronteira de Kerem Shalom com Israel, no sul de Gaza, desde 6 de maio, quando as tropas israelenses iniciaram uma operação militar na área de Rafah. A agência afirmou em um comunicado que o acesso ao seu depósito em Rafah havia sido bloqueado por causa dos confrontos, e que seus estoques de alimentos e combustível se esgotariam “em questão de dias”.
“A ameaça de fome em Gaza nunca foi tão grande”, disse a agência, acrescentando que as operações de Israel em Rafah prejudicaram significativamente os esforços para aliviar a crise humanitária das 2,2 milhões de pessoas no enclave.
Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira, Dan Dieckhaus, diretor da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, destacou que o corredor de ajuda marítima tinha como objetivo complementar as entregas através de passagens terrestres, não substituí-las.
O Pentágono afirmou que o pier poderia ajudar a fornecer até dois milhões de refeições por dia.
Um grupo de ajuda, a World Central Kitchen, construiu um píer improvisado em meados de março para fazer entregas de ajuda por mar para Gaza pela primeira vez em quase duas décadas. No entanto, esses esforços foram interrompidos abruptamente no início de abril, depois que sete trabalhadores do grupo foram mortos em um ataque israelense.
Rawan Sheikh Ahmad e Helene Cooper contribuíram com a reportagem.
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