O Papa Francisco reiterou em uma nova entrevista que a Ucrânia deve negociar para encerrar a guerra com a Rússia, mas desta vez ele usou linguagem – adotando a expressão de seu entrevistador, “bandeira branca” – que chamou a atenção e levantou questões sobre se o papa estava sugerindo que a Ucrânia se rendesse.

No sábado à noite, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, esclareceu imediatamente que o papa quis dizer “cessar-fogo e negociação”, e não rendição, quando mencionou bandeira branca, um símbolo universal de desistência.

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Mas as palavras do papa e outras que ele usou durante a entrevista destacaram como o Vaticano muitas vezes tem confundido os oficiais e apoiadores da Ucrânia que lutam para entender sua posição.

No início da guerra, muitos ucranianos expressaram frustração com Francisco por se recusar a chamar especificamente a Rússia e seu presidente, Vladimir V. Putin, como o agressor no conflito.

Francisco eventualmente se tornou mais vocal ao expressar apoio ao que ele passou a chamar de “Ucrânia martirizada”, citando a agressão da Rússia e rezando pelas vítimas inocentes da Ucrânia. Mas o Vaticano também buscou evitar tomar partido na guerra, em parte para preservar a possibilidade de ser chamado para negociar um acordo de paz, uma esperança muitos analistas geopolíticos consideram delirante.

Francisco usou o termo bandeira branca em uma entrevista televisionada gravada em fevereiro com o canal de televisão suíço RSI. O tema da entrevista era a cor branca. Um entrevistador perguntou a Francisco se ele acreditava que na Ucrânia havia a necessidade de “se render, a bandeira branca neste caso”, ou se tal capitulação apenas legitimaria as ações de tiranos.

De acordo com imagens da entrevista fornecidas pela emissora pública, que será exibida ainda este mês, Francisco respondeu dizendo que o medo de encorajar o agressor era “uma interpretação, é verdade. Mas acredito que o mais forte é aquele que vê a situação, pensa nas pessoas, e tem a coragem da bandeira branca, e de negociar.”

O Sr. Bruni disse que o papa estava usando a imagem proposta pelo entrevistador para indicar “o cessar das hostilidades, a paz alcançada com a coragem da negociação.” Ele destacou que mais tarde na entrevista, Francisco disse: “a negociação nunca é uma rendição.”

Mas, na mesma frase, Francisco chama a negociação de “a coragem de não levar um país ao suicídio.”

O papa fez outras declarações que deixaram os oficiais e apoiadores da Ucrânia desconfortáveis, uma vez que disse que havia uma “missão” secreta do Vaticano para trazer paz ao conflito. Seu hábito de dar audiências a aliados e oficiais do governo de Putin e sua condenação geral ao comércio de armas – quando Kyiv precisa de armas para se defender – também minaram a confiança de alguns ucranianos no apoio do papa à sua causa.

Na entrevista com a RSI, Francisco disse que hoje “é possível negociar com a ajuda de potências internacionais, elas estão lá, não? Essa palavra negociar, é uma palavra corajosa.”

Ele acrescentou: “Quando você percebe que está derrotado, que as coisas não estão indo bem, você deve ter a coragem de negociar.”

“E você se envergonha de si mesmo?” por negociar, continuou, acrescentando que se, em vez disso, se continuar pelo mesmo caminho, “quantos mortos, e então? No final, será pior ainda.”

Ele acrescentou que era crítico “negociar a tempo, encontrar algum país que possa atuar como mediador.”

“Hoje, por exemplo”, ele prosseguiu, “na guerra na Ucrânia, há muitos que querem ser mediadores, não? A Turquia, por exemplo. Não se envergonhe de negociar antes que as coisas piorem.”

Francisco frequentemente buscou posicionar o Vaticano como mediador. Questionado na entrevista se estaria disposto a desempenhar esse papel, ele respondeu: “Estou aqui, ponto. Eu disse isso.”

O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, acrescentou no sábado que a esperança do papa continua sendo que uma solução diplomática possa ser alcançada para uma “paz justa e duradoura.”

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