A valorização recente do dólar e o aumento das incertezas levaram o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo de cortes na taxa de juros. Com 5 votos a favor e 4 contra, o Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu a taxa Selic, que é a taxa básica da economia, em 0,25 ponto percentual, ficando em 10,5% ao ano. Essa decisão era esperada pelos analistas financeiros.
Essa foi a sétima redução consecutiva da taxa Selic pelo Copom, mas a velocidade dos cortes diminuiu. Entre agosto do ano passado e março deste ano, a redução era de 0,5 ponto percentual a cada reunião.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, desempatou a decisão ao votar por um corte de 0,25 ponto. Além dele, votaram a favor Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes, que foram indicados pelo governo anterior. A favor de uma redução de 0,50 ponto percentual votaram Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira, indicados pelo governo atual.
Em comunicado, o Copom destacou que houve agravamento do cenário internacional e que a inflação subjacente, que exclui preços mais voláteis, está acima da meta. O comunicado também ressaltou a importância da credibilidade do arcabouço fiscal aprovado no ano passado. Em contraste com cortes anteriores, o Banco Central não deu indicações sobre as próximas ações.
“O comitê acompanhou de perto os desdobramentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária. O comitê reforça que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, impactando assim a política monetária”, ressaltou o texto.
A taxa está no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, iniciando um ciclo de aperto monetário devido ao aumento dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Depois de mantida em 13,75% ao ano por sete reuniões, a taxa começou a ser reduzida.
Antes do ciclo de alta, a Selic estava em 2% ao ano, o menor nível da série histórica iniciada em 1986. Em resposta à contração econômica causada pela pandemia de covid-19, o BC reduziu a taxa para estimular a produção e o consumo, mantendo-a no menor patamar de agosto de 2020 a março de 2021.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em março, o IPCA foi de 0,16%, atingindo 3,93% em 12 meses. Após um aumento em fevereiro, a inflação desacelerou em março devido a alimentos, bebidas e transporte.
O IPCA em 12 meses está no limite da meta de inflação. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu a meta de inflação em 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, não podendo ultrapassar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5% neste ano.
No Relatório de Inflação divulgado no final de março pelo Banco Central, a estimativa de encerramento do IPCA em 2024 foi mantida em 3,5% no cenário base, mas essa projeção pode ser revisada na próxima versão do relatório, que será divulgada no final de junho.
As previsões do mercado são mais otimistas do que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deve encerrar o ano em 3,73%, abaixo do limite da meta. Um mês atrás, as estimativas do mercado estavam em 3,76%.
Crédito mais acessível
A redução da taxa Selic estimula a economia, pois juros mais baixos tornam o crédito mais barato e incentivam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central elevou a projeção de crescimento da economia em 2024 para 1,9%.
O mercado prevê um crescimento um pouco maior. Conforme a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos projetam uma expansão de 2,05% do PIB em 2024.
A taxa básica de juros é utilizada nas transações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Aumentando-a, o Banco Central controla a demanda excessiva que pressiona os preços, pois juros mais altos encarecem o crédito e incentivam a poupança.
Ao reduzir a taxa básica de juros, o Copom barateia o crédito, estimula a produção e o consumo, porém enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa ter certeza de que os preços estão sob controle e não há risco de aumento.
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