Acordo Mercosul-União Europeia explica interesse dos EUA na negociação; presidente americano diz ter ‘ótima’ relação com Bolsonaro
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira, 30, que quer iniciar a negociação de um acordo de livre comércio com o Brasil como meio de resolver a suposta disputa entre as duas nações. Em outubro de 2018, Trump criticou o “protecionismo brasileiro”, em especial as altas tarifas de importação sobre produtos dos Estados Unidos, sem referir-se às medidas por ele tomadas contra produtos “made in Brazil”.
“Nós vamos trabalhar em um acordo de livre comércio com o Brasil”, afirmou Trump, sem ater-se ao fato de que o país somente negociará como parte do Mercosul, que envolve a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. “O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram muitas tarifas, mas apesar disso nós amamos essa relação”, completou.
A mudança de retórica da Casa Branca em relação a uma possível negociação com o Brasil/Mercosul está no fato de o bloco sul-americano e a União Europeia terem concluído um acordo de livre comércio entre em junho passado. Os Estados Unidos e os europeus disputam o mercado do Mercosul, em especial do Brasil, no mesmo segmento de produtos manufaturados. Em três anos, quando se espera a adoção dos termos do acordo de junho, os exportadores americanos estarão em desvantagem competitiva em relação aos europeus se igualmente não tiverem liberalizado o comércio com o Mercosul.
Essa mesma lógica motivou as negociações em paralelo do Mercosul na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e com a União Europeia, nos anos 1990 e início dos 2000. A primeira foi “sepultada” em 2005, na Reunião de Cúpula das Américas, por esforço conjunto do Brasil, da Argentina e da Venezuela. A segunda foi suspensa em 2007, mas retomada dez anos depois.
À imprensa, na Casa Branca, Trump ainda citou seu “ótimo relacionamento” com Jair Bolsonaro. No ano passado, o governo americano anunciou a imposição de sobretaxa para a importação de aço e alumínio de diversos países pelos Estados Unidos, entre eles o Brasil. Em agosto, Trump voltou atrás e decidiu aliviar as taxas para o aço para o mercado brasileiro e de outros parceiros comerciais.
Pouco depois, durante uma coletiva de imprensa em outubro, o presidente republicano criticou o Brasil por cobrar altas tarifas dos produtos americano e disse que o país “está entre os mais duros do mundo”.
Depois da posse de Jair Bolsonaro em janeiro deste ano, o Brasil vem construindo uma aproximação com os Estados Unidos. O líder brasileiro visitou Washington no final de março e se encontrou com Trump na Casa Branca.
Durante a reunião de cúpula do G20 no Japão, no fim de junho, os dois presidentes voltaram a se reunir e chegaram a conversar sobre a possibilidade de um acordo comercial entre o Mercosul e os Estados Unidos. Na mesma reunião, Bolsonaro e Trump trocaram muitos elogios. O republicano disse que o brasileiro “é um homem especial” e “muito amado pelo povo do Brasil”.
Ingresso na OCDE
Durante o encontro na Casa Branca em março, Donald Trump disse também que daria seu apoio ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), um dos pleitos de Brasília. Na época, os Estados Unidos defendiam o ingresso da Argentina, mas não do Brasil.
Em maio, uma reportagem do jornal Valor Econômico afirmou que diplomatas americanos haviam descumprido o acordo feito com o governo brasileiro, ao não se manifestaram sobre o tema em reunião da OCDE em Paris. Logo depois, o assessor especial para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, desmentiu a informação, dizendo que há um impasse sobre o número de vagas a serem abertas na organização, mas que a posição americana continuava de apoio à entrada do Brasil.
Nesta segunda-feira 29, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, recebeu o ministro da Europa e das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, em Brasília. Durante a reunião de trabalho, Le Drian também expressou o apoio de seu país ao ingresso do Brasil na OCDE, segundo o Itamaraty. Ainda assim, seu encontro com o presidente Bolsonaro foi desmarcado na última hora.
“Fiquei muito feliz de ouvir do ministro Le Drian que a França mantém o seu apoio integral a adesão do Brasil à OCDE, uma adesão que precisa apenas de uma data agora”, disse Araújo, em coletiva de imprensa.
(Com Reuters)