A informação foi prestada pela gerente financeira da INC, cunhada e braço direito de Mouhamad, Priscila Marcolino, em acordo de delação premiada.
Relatório da Polícia Federal sobre a Operação Vertex encaminhado à Justiça Federal no final de agosto, aponta que o valor ajustado com o ex-governador e senador Omar Aziz (PSD), no início do esquema do Instituto Novos Caminhos (INC), era de R$ 500 mil em propina por pagamento recebido pelo INC, do médico e empresário Mouhamad Moustafa, pelo contrato milionário de gestão de três unidades hospitalares do Estado. A informação foi prestada pela gerente financeira da INC, cunhada e braço direito de Mouhamad, Priscila Marcolino, em acordo de delação premiada.
Priscila Marcolino disse, em depoimento, que tanto Omar quanto outros agentes públicos ou auxiliares recebiam valores em proporção definida no início do funcionamento do esquema, que guardavam correspondência aos pagamentos mensais contratados com o INC. Omar Aziz assumiu o governo em abril de 2010, com a saída de Eduardo Braga (MDB) para disputar o Senado, e deixou o posto em março de 2014 para concorrer à eleição de senador. Entre 2014 e 2015, o INC recebeu R$ 276 milhões do governo. Segundo a delatora, o controle era feito de acordo com o mês de referência recebido pelo INC, pois havia atraso nos pagamentos pelo Estado. Ela afirma que Omar era o único que Mouhamad pagava mesmo sem ter recebido o dinheiro destinado ao INC, realizando ajustes nas contas para honrar tais pagamentos.
No relatório, a PF detalha 11 eventos de supostas entrega de vantagens indevidas ao senador. Sete ocorrências relatadas no inquérito policial indicam o montante de R$ 762 mil de Mouhamad destinados a Omar. Os repasses variavam de R$ 2 mil a R$ 250 mil, segundo a PF. E se estendem até após a saída do ex-governador do cargo.
Em Diálogo entre Mouhamad e Priscila por meio de mensagens de WhatsApp obtida pela perícia da PF há cobrança por parte de Omar após saber que o empresário teria recebido seus pagamentos, possivelmente, da Susam. Entre os dias 01 e 23 de agosto de 2016, as empresas controladas pelo médico receberam mais de R$ 15 milhões.
“Estou precisando de 250 mil em dinheiro urgente. Omar está desesperado precisando e me cobrando aqui que sabe que recebi”, diz Mouhamad para Priscila.”Já dei os 100 do Pedro não tem 50 lá em casa”, completa o empresário. “Vou ver oq consigo”, responde a gerente financeira do INC.
Segundo o relatório, conversa entre Mouhamad e seu funcionário de São Paulo, Dilson Maciel, mostra a entrega de R$ 20 mil em espécie a Omar, que se encontrava na capital paulista para o casamento do médico Roberto Kalil Filho ocorrido no dia 9 de maio de 2015.
Em outra conversa disponível no documento, Mouhamad pede a ex-presidente do INC, Jennifer Naiyara que entregue R$ 2 mil para uma mulher não identificada em nome da ex-primeira dama do Estado Nejmi Aziz e de Omar, sem explicar o motivo de tal pagamento.
Também consta pagamentos indiretos a Omar para custeio do aluguel do apartamento do senador em Brasília creditados diretamente em conta de terceiro indicada pela auxiliar do parlamentar, Nafice Bacry Valoz.
“As transferências efetuadas seriam para pagar contas do apartamento do senador Omar em Brasília. Aqui salientamos que após os pagamentos serem efetuados através de contas da Simea e da Salvare, há uma reclamação por parte de Nafice devido à transferência estar identificada. Nesse momento, Mouhamad diz para Priscila que deve ser por causa da operação Lava Jato que “está no pé dele” e aparecendo empresa pagando o apartamento, poderia “complicar” a vida do Omar”, diz trecho do documento. Nacife foi presa temporariamente no dia 19 de julho durante a Operação Vertex, 5ª fase da Maus Caminhos.
De acordo com o inquérito, a quebra de sigilo bancário mostra que Mouhamad transferiu R$ 120 mil, da conta da Salvare Serviços Médicos ltda, para a empresa Rico Táxi Aéreo Ltda, no dia 06 de junho de 2016, para o custeio da transferência de Omar, que estava internado em um hospital particular em Manaus, para o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Em junho de 2016, o senador havia sido internado no Hospital Santa Júlia com suspeita de AVC ou um aneurisma.
“Apesar de ter uma preocupação em não deixar registro do embarque de Omar Aziz para São Paulo, Mouhamad comenta com diversas pessoas que está junto de Omar, dando informes a respeito de seu estado de saúde (…) No dia 05/06/2016, Mouhamad informa que “ele”, referência a Omar, já teria alta hospitalar em breve e que mandaria cento e vinte mil reais como pagamento pelo voo, diária dos pilotos, etc”, conforme trecho.
Em uma conversa Mouhamad pede a um dos seus funcionários ir a joalheria chamada Grifith, localizada no Shopping Iguatemi em Brasília, para comprar um relógio de luxo de R$ 36 mil como presente pela festividade de aniversário de Omar, no dia 13 de agosto.
“Os indícios coletados permitem concluir que Mouhamad realizou aquisição de relógio da marca Cartier, no valor de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), em Brasília/DF com o intuito de presentear Omar Aziz”.
A PF afirma que pelos indícios apontados é possível atribuir a Omar a prática de crimes de corrupção passiva, lavagem de capitais e participação de organização criminosa. Com base no relatório o Ministério Público Federal poderá ingressar ou não com ações judiciais que considerar cabíveis.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do senador pedindo posicionamento a respeito do inquérito da PF e aguarda resposta. Assim que comunicada será publicada.
Relação de Omar e Mouhamad
Ao tratar do vínculo do senador Omar Aziz com a organização criminosa, a PF aponta que Mouhamad, com auxílio de agentes públicos influentes e ocupantes de altos cargos na administração pública estadual, incluindo o ex-governador José Melo, busca também que Omar interfira em favor de seus negócios com o Estado.
Entre os elementos colhidos pela PF estão diversos indícios que revelam o relacionamento interpessoal e o grau de proximidade entre Omar e Mouhamad e o rigoroso controle para que tal relação não fosse pública.
“As fotografias são pertinentes e confirmam dois fatos importantes: que Mouhamad efetivamente esteve com Omar, tal como afirma em suas mensagens e que os dois mantinham uma relação marcada pela proximidade e intimidade, vez que recebeu o empresário em sua casa em traje que corrobora tais conclusões”. As fotografias foram compartilhadas por Mouhamad com Priscila Marcolino.
A informação policial nº 48/2017, além de trazer explicações acerca de algumas contramedidas utilizadas pelos investigados para se blindarem em reação às técnicas de investigação, aponta os diversos codinomes usados pelos investigados para encobrir o ex-governador e seus recebimentos de vantagens decorrentes do esquema criminoso. Armando, Ganso e Alfa’ são codinomes dados ao senador Omar, segundo a PF.
Segundo o relatório, as vantagens indevidas se devem ao fato de Mouhamad ter se transformado em um empresário de sucesso da noite para o dia, passando a administrar, num período de dois anos, a quantia de R$ 276 milhões em recursos públicos da saúde, transferidos pelo governo estadual ao Instituto Novos Caminhos (INC).
Vantagens para Murad
De acordo com o relatório, no material apreendido na Operação Cashback, a PF encontrou recibos de pagamentos da joalheria H Stern em nome do empresário Alessandro Viriato Pacheco, mas com o nome “Murad”, a indicar que a compra teria sido realizada em benefício de Murad Abdel Aziz. Outros documentos e boletos apreendidos revelam parceria empresarial oculta entre Alessandro e Murad.
*Informações do Acritica