O presidente Jair Bolsonaro determinou que o núcleo militar do governo supervisione a nova gestão no Ministério da Saúde. O secretário de Assuntos Especiais, almirante Flavio Rocha, recebeu a incumbência de acompanhar de perto a transição. Ele fará essa interface com o ministro da Casa Civil, general Braga Netto, que já é o responsável pela coordenação do gabinete de crise do governo.
Além de uma supervisão, a ideia é que as Forças Armadas também ampliem seu papel no combate ao coronavírus no país. Em especial, na parte de logística e de segurança. Por exemplo, na distribuição dos testes que o novo ministro, Nelso Teich, pretende fazer. Ou no cuidado para que a distribuição deles não sofra qualquer dano.
Hoje, já há mais de 25 mil homens das forças em atuação ao combate ao coronavírus, número semelhante ao que foi Segunda Guerra Mundial. O Planalto não fala ainda em ampliar esses números, mas sim que haja uma participação maior nessas áreas estratégicas.
Além dos militares, a expectativa é a de que a Associação Médica Brasileira (AMB) tenha também uma participação relevante na nova gestão, ainda que seja apenas de aconselhamento. O presidente da entidade, Linconl Ferreira, o tesoureiro, José Luis Bonamigo Filho, participaram das conversas na quinta-feira com Bolsonaro e seus ministros mais próximos.
Dois fatores, segundo fontes, foram essenciais para a escolha. Primeiro, o apoio da AMB. Linconl fez uma fala clara de que o agora ex-ministro Luiz Henrique Mandetta havia perdido o apoio da classe. Outra foi uma fala de Teich sobre o que se chama de “determinantes sociais da saúde”. Basicamente, uma visão mais global da saúde e o impacto de outros fatores nos seus indicadores, como a economia e o desenvolvimento social.
A conclusão foi a de que a crise do coronavírus não pode ser vista apenas sob a ótica do número de mortos e de infectados do COVID-19, mas também sob o impacto da estratégia de combate em outras doenças do sistema de saúde. Ele relatou que o foco apenas no coronavírus acaba por desassistir outras enfermidades e também impactar o sistema de saúde.
Outro fator que ajudou na sua escolha foi não fechar qualquer possibilidade de análise de outros tratamentos, como a cloroquina. O presidente lhe disse que era preciso apontar saídas também para a população, transmitir alguma mensagem positiva e não ajudar a criar um ambiente estritamente alarmista, crítica comum no Planalto feita a Mandetta. Foi mencionado que deve ser destacado também daqui em diante o número de recuperados, algo que a antiga gestão demorou a destacar. Pediu também que fosse feita uma análise sobre como os recuperados conseguiram se curar, principalmente se a cloroquina foi utilizada.
Com a posse no final da manhã desta sexta-feira, um dos primeiros passos do ministro será a revisão da estrutura organizacional da pasta. Depois, começar a organizar o sistema de informações da pasta. Um terceiro passo é, a partir dessas informações coletadas, construir um plano amplo de testes da população.
Mas o governo não quer que os testes sejam universais, ou seja, para toda a população. É preciso focar em algumas localidades mais críticas e em respeito a uma amostragem fidedigna do perfil da população e dos locais onde há maior incidência do vírus. Só a partir daí que será elaborado, finalmente, o que o presidente deseja: um plano de transição do isolamento social total para um parcial.
Por isso que o novo ministro irá englobar nesses testes as empresas, além do Sistema Único de Saúde (SUS) e do privado. Assim, pretende fazer com que a atividade econômica seja retomada aos poucos sem risco de contaminação dos empregados e da população.