Nicarágua, um longo apoiante da causa palestiniana, está alargando a batalha legal sobre o conflito em Gaza no Tribunal Internacional de Justiça ao trazer um caso contra a Alemanha, um importante fornecedor de armas para Israel.

No seu processo, Nicarágua argumenta que “a Alemanha está a facilitar a prática de genocídio” em Gaza e a violar a Convenção de Genocídio ao fornecer ajuda militar e financeira a Israel. Solicita medidas de emergência ordenando a Berlim que suspenda o seu apoio durante a guerra a Israel.

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Em audiências que começaram na segunda-feira no tribunal em Haia, Nicarágua também espera afirmar que a Alemanha está a permitir violações graves das Convenções de Genebra por parte de Israel, em particular a obrigação de proteger civis durante conflitos armados.

O caso apresentado por Nicarágua levanta novas questões sobre a responsabilidade dos países que forneceram armas a Israel para a guerra em Gaza.

Advogados dizem que a Alemanha – o segundo maior fornecedor de armas de Israel, depois dos Estados Unidos – é um alvo mais fácil para um processo do que os Estados Unidos. A Alemanha concedeu plena jurisdição ao Tribunal Internacional de Justiça, o tribunal mais alto das Nações Unidas. Mas os Estados Unidos negam a sua jurisdição, exceto em casos em que Washington dê explicitamente o seu consentimento.

O caso de Nicarágua é o terceiro perante o tribunal este ano que lida com o conflito israelo-palestiniano.

A África do Sul solicitou primeiro medidas de emergência ao tribunal, argumentando que Israel estava em risco de cometer genocídio, uma afirmação que o tribunal considerou plausível, mas que Israel contestou veementemente. O tribunal ordenou a Israel que garantisse que os seus cidadãos e soldados não violassem a Convenção de Genocídio, a qual Israel assinou. A convenção proíbe ações destinadas a destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

A África do Sul também interpôs uma petição ao T.C.I. sobre a fome em Gaza e obteve uma nova decisão ordenando a Israel que permitisse a entrega de alimentos, água e outros suprimentos vitais “sem demora”. Apesar da autoridade do tribunal, não possui meios para forçar Israel a cumprir as suas ordens. Israel nega veementemente acusações de fome deliberada em Gaza.

Em fevereiro, o tribunal também aceitou um caso solicitado pela Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a legalidade da ocupação de territórios palestinianos por Israel. Essas audiências, planeadas muito antes da guerra, ouviram mais de 50 países, a maioria dos quais manifestou indignação e frustração com os ataques de Israel a Gaza e o aumento do número de mortes entre civis, muitos deles crianças.

O caso nicaraguense é muito mais abrangente em termos de escopo do que o da África do Sul, invocando tanto violações das Convenções de Genebra como a convenção contra genocídios, e exigindo a proteção de civis. Também acusa Israel de outras condutas “ilegais” nos territórios ocupados.

O tribunal ainda não aceitou o caso, mas é obrigado a reagir rapidamente a pedidos de medidas de emergência, como neste caso.

Israel, que não é parte da disputa entre Nicarágua e Alemanha, não comparecerá perante o tribunal nas audiências desta semana, que se espera que durem dois dias. A Alemanha deverá responder ao caso de Nicarágua na terça-feira de manhã.

A intensa atividade recente no tribunal colocou-o numa rara luz de destaque. Advogados dizem que os países recorreram ao tribunal porque os esforços das Nações Unidas e de outros negociadores não conseguiram até agora parar a guerra em Gaza.

“O T.C.I. não vai acabar com a guerra em Gaza, mas é uma ferramenta diplomática que a política externa utiliza para aplicar pressão adicional sobre Israel”, disse Brian Finucane, conselheiro sénior do International Crisis Group, um grupo de reflexão para resolução de conflitos. “No caso de Nicarágua, aplica-se ainda mais pressão sobre a Alemanha.”

O governo da Nicarágua enfrenta sanções por políticas repressivas internamente. Um relatório especial das Nações Unidas no mês passado afirmou que os numerosos abusos do governo, incluindo a prisão e deportação de opositores e de clérigos católicos romanos, eram “equivalentes a crimes contra a humanidade.”

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