O Fundo Monetário Internacional concordou em aumentar mais que o dobro o pacote de resgate para o Egito, que enfrenta sua pior crise econômica em décadas, agravada pelas guerras na Faixa de Gaza, vizinha, e na Ucrânia.
O fundo planeja agora fornecer ao Egito US$8 bilhões, acima dos US$3 bilhões anunciados inicialmente em outubro de 2022. A chefe da missão do FMI no Egito, Ivanna Vladkova Hollar, destacou em coletiva de imprensa que a economia egípcia já em dificuldades foi prejudicada ainda mais pelo conflito entre Israel e o Hamas, que afetou o importante setor de turismo do país.
Ao mesmo tempo, a receita do Canal de Suez caiu pela metade após militantes houthis, que afirmam agir em solidariedade aos palestinos em Gaza, começarem a atacar navios de carga nas rotas marítimas do Mar Vermelho.
O Primeiro Ministro Mostafa Madbouly do Egito afirmou que o acordo permitirá ao governo garantir US$1,2 bilhão adicionais, além dos US$8 bilhões, do fundo de adequação ambiental do FMI e incentivará parceiros de desenvolvimento como o Banco Mundial e a União Europeia a concederem mais empréstimos ao Egito para ajudá-lo a alcançar estabilidade financeira.
Na semana passada, o Egito assegurou um acordo no valor de US$35 bilhões com os Emirados Árabes Unidos para desenvolver partes de sua costa mediterrânea. Autoridades egípcias celebraram como o maior investimento estrangeiro direto na história do Egito.
Horas antes do anúncio do acordo com o FMI, numa tentativa de conter a inflação crescente, o Banco Central do Egito desvalorizou a moeda em mais de 35% – foi a quarta desvalorização em dois anos – e elevou as taxas de juros em 600 pontos base.
Madbouly disse que seu governo e o FMI chegaram a um consenso sobre os objetivos do plano de reforma estrutural do Egito.
“Eles visam aumentar as reservas em moeda estrangeira, reduzir o peso da dívida, garantir o fluxo de investimentos estrangeiros diretos e trabalhar em prol de altas taxas de crescimento para a economia egípcia”, afirmou. O governo e o fundo monetário estão comprometidos com medidas de proteção social para pessoas vulneráveis que serão afetadas pelos planos de reforma, completou Madbouly.
Nos últimos 18 meses, a grave escassez de moeda estrangeira no Egito, que depende massivamente de importações, fez com que os preços – e a ansiedade em relação ao futuro – disparassem. O custo de alguns alimentos básicos quadruplicou, o fardo da dívida atingiu um recorde e a moeda perdeu uma grande parte de seu valor, reduzindo o poder de compra dos salários das pessoas e o valor de suas economias.
O Governador do Banco Central, Hassan Abdalla, afirmou que o plano de médio prazo do governo visa reduzir a inflação, que atingiu uma máxima recorde de quase 40% no verão passado, para um dígito.
Antes do acordo com o FMI, a crescente pressão econômica forçou o governo a mudar de estratégia, incluindo a suspensão de alguns megaprojetos caros encomendados pelo Presidente Abdel Fattah el-Sisi, incluindo uma nova capital luxuosa no deserto.
A pressão adicional veio do FMI, que se recusou a liberar grande parte do empréstimo inicial até que o Egito cumprisse algumas condições de política econômica. Entre elas, estava o incentivo ao crescimento do setor privado eliminando as vantagens competitivas desfrutadas pelas empresas de propriedade militar do Egito.
Nos últimos anos, a economia egípcia tem lutado por estabilidade. Muitos observadores afirmam que a má gestão, incluindo gastos excessivos em megaprojetos e a dependência crônica de importações, deixaram o Egito vulnerável a choques externos sucessivos. Além da guerra em Gaza, houve a pandemia de coronavírus e a guerra na Ucrânia, que afetaram tanto o turismo como as importações essenciais de trigo.
El-Sisi defendeu várias vezes as políticas de seu governo, afirmando que a revolta de 2011 que depôs o Presidente Hosni Mubarak desencadeou uma precariedade econômica duradoura.
No entanto, em interações diárias nas ruas do Cairo e nas redes sociais, muitos culpam o presidente, a quem acusam de gastar em projetos supérfluos e enfraquecer a economia a ponto de minar a influência do Egito na região.
Alguns especialistas afirmam que o FMI, que emprestou bilhões de dólares ao Egito desde 2016, faz parte do problema.
“Não vão fundo o suficiente no que está acontecendo na máquina”, disse Mohamed Fouad, consultor financeiro e ex-parlamentar egípcio. Fouad espera que o credor internacional agora tome decisões mais calculadas.
“O maior erro deles”, disse ele, “foi entre 2016 e 2020, quando todos estavam aplaudindo, focando apenas no aspecto macroeconômico. Mas a base era frágil.”
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