Muhammad encontrou uma vida melhor na Rússia após emigrar do Tajiquistão no ano passado. Ele começou a dirigir vans de entrega na Sibéria, inscreveu seus filhos em uma escola local, solicitou um passaporte russo e começou a planejar a compra de um apartamento com as economias de seu salário muito mais alto. No entanto, os planos de Muhammad foram interrompidos pela prisão de um grupo de cidadãos tajiques acusados de realizar o ataque que matou 145 pessoas em um teatro em Moscou. Isso o encheu de medo de ser alvo da repressão aos imigrantes da Ásia Central que sustentam a economia russa.

A reação da polícia russa ao ataque terrorista, o mais letal no país em décadas, incluiu operações em milhares de locais de construção, dormitórios, cafés e armazéns que empregam e atendem aos migrantes. Isso expôs uma das principais contradições da Rússia em tempos de guerra, onde o fervor nacionalista fomentado pelo governo gerou xenofobia, mesmo quando os trabalhadores estrangeiros se tornaram parte indispensável do esforço de guerra do país.

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Enquanto os trabalhadores russos partiram para lutar na Ucrânia, Tajiques e cidadãos de outros países da Ásia Central preencheram parte do vácuo deixado. Eles mantiveram o fluxo de bens de consumo, construíram casas para atender ao boom imobiliário alimentado pelos gastos militares e reconstruíram cidades ucranianas ocupadas e destruídas pela guerra. No entanto, a fragilidade de sua situação foi exposta pelo massacre no teatro, levando muitos a temerem a repressão e o aumento da xenofobia.

Os tajiques provaram ser especialmente vulneráveis, uma vez que sua pátria, o Tajiquistão, é marcado pela pobreza e isolamento político. Isso torna difícil para eles voltarem para casa caso sejam deportados da Rússia. A instabilidade causada pela guerra civil e pelo fundamentalismo islâmico no Tajiquistão levou muitos de seus cidadãos a buscar refúgio na Rússia.

Os especialistas em migração russos estimam que cerca de um milhão de tajiques, ou cerca de um décimo da população do Tajiquistão, estejam na Rússia a qualquer momento. A maioria deles trabalha em empregos do setor informal, tornando-se vulneráveis a abusos. A xenofobia na Rússia tornou-se uma preocupação crescente para os migrantes da Ásia Central, especialmente durante a guerra que o Kremlin apresentou como uma luta pela sobrevivência da identidade cultural russa.

O ataque ao teatro provavelmente mudará o debate migratório na Rússia, priorizando a segurança nacional em detrimento da economia. Enquanto alguns pedem restrições à imigração, a necessidade de trabalhadores estrangeiros para manter a economia estável é inegável. A atitude em relação aos migrantes parece estar se tornando mais hostil, o que preocupa os defensores dos direitos humanos.

As tensões crescentes e a reação do governo após o ataque colocaram em xeque a integração cultural e a segurança dos migrantes, especialmente os tajiques na Rússia. A incerteza em relação ao futuro desses trabalhadores estrangeiros destaca a complexidade das questões relacionadas à migração e à identidade cultural em tempos de guerra.

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