Em 2021, uma jovem ex-funcionária do governo chocou a nação ao revelar na televisão nacional que foi agredida sexualmente no Parlamento da Austrália dois anos antes. Isso provocou uma onda de indignação direcionada ao estabelecimento político insular e dominado por homens do país. A funcionária, Brittany Higgins, acusou seu colega Bruce Lehrmann de estupro, alegando ter sido pressionada pelo governo na época para não denunciar o crime. Essa situação levou a um debate sobre os direitos das mulheres e contribuiu para a derrota do governo conservador da Austrália nas eleições. Apesar disso, o caso não teve uma conclusão legal por anos. Na última segunda-feira, o caso foi finalmente, em parte, resolvido de forma indireta.

Lehrmann perdeu um processo civil de difamação que moveu contra a emissora de televisão que veiculou o relato de Higgins, com o juiz concluindo que, com base nas evidências disponíveis, era mais provável do que não que Lehrmann a tivesse estuprado. Embora o processo não tenha ocorrido em um tribunal criminal e o crime não tenha precisado ser provado além de dúvida razoável, a decisão foi um alívio para muitos que aguardavam por uma validação para Higgins.

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A decisão do juiz Michael Lee do Tribunal Federal da Austrália em Sydney indicou que era mais provável do que não que Higgins estava inebriada, desorientada e imóvel enquanto Lehrmann a atacava. Ele afirmou que Lehrmann estava determinado a ter relações sexuais com ela, ignorando se ela tinha capacidade para consentir. A juíza concluiu que, apesar de acreditar que Higgins exagerou a tentativa do governo de encobrir o incidente, o relato do crime em si era crível. Ela ressaltou que nada do que Lehrmann disse deveria ser aceito como fato sem corroborção por outras fontes.

A professora de ciência política da Universidade de Melbourne, Sarah Maddison, destacou que o caso ilustrou as preocupações das mulheres em relação ao tratamento dado às acusações de agressão sexual pelo sistema judiciário australiano, incluindo a intensa investigação a que as acusadoras são frequentemente submetidas. Após uma tentativa de julgamento criminal em 2022 terminar em um mistrial, Lehrmann procesu a emissora Network Ten e a jornalista Lisa Wilkinson por difamação.

Após a decisão do juiz na segunda-feira, Wilkinson afirmou: “Sinto-me feliz pelas mulheres da Austrália hoje.” A repercussão do veredito continuava a ser discutida, com críticas de que Lehrmann enfrentou poucas consequências, enquanto Higgins passou por muitos desafios para chegar a esse ponto, sem receber justiça proporcional ao sofrimento enfrentado.

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